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COLUNISTAS - Tatiana Lazzarotto
O reinado dos Castelões
20/11/2012

Existem lugares que são verdadeiros achados, residindo insuspeitos no meio do caminho. Castelões é um deles. Num domingo quente e sem planos, topamos com ele em uma rua deserta do Brás, bairro que moro. Estou acostumada, embora muita gente receie e torça o nariz, às ruas feias do bairro que já chegou a ser mais conhecido na Itália que a própria São Paulo. Hoje o Brás perdeu um pouco do encanto e o título de ‘berço’ italiano acabou ficando para a Mooca, entre os menos entendidos. Para o Brás, sobrou a fama de sujo, feio, perigoso e casa de um Arnesto meio esquecido.

Por isso, nem me abalei quando meu namorado sugeriu que almoçássemos num lugar que de longe parecia pouco mais que um muquifo. Ledo engano. Ao chegar perto você percebe que sim, você está diante de um achado. A placa é de 1924 e não é enganosa. O restaurante Castelões existe lá desde então. Trata-se do local mais antigo funcionando ininterruptamente no mesmo lugar em São Paulo. O vinho cuja propaganda está na placa nem existe mais. Não importa, o esforço parece ser mesmo o de deixar as coisas como outrora.

Ficamos tão encantados pelas toalhas quadriculadas em vermelho e branco, as fotos em preto e branco de pessoas ilustres, os recortes de jornal exaltando o lugar, as antigas flâmulas de time nas paredes, em sua maioria em verde e branco, que demoramos a notar as letras em caixa alta no cardápio: NÃO ACEITAMOS CARTÕES DE DÉBITO OU CRÉDITO. Saímos correndo para tirar dinheiro no caixa eletrônico para voltar e apreciar as iguarias. A opção pelo dinheiro é questionada e muito criticada, como andei lendo em vários comentários por aí, mas perfeitamente compreensível. Castelões resiste num esforço sobrenatural de manter as coisas como no passado. Em um dos recortes emoldurados na parede, li que os fornecedores são os mesmos há pelo menos 50 anos e não se usa extrato de tomate nas receitas. Os tomates, sem pele e sementes, são cozidos por pelo menos 4 horas diariamente para garantir um molho espetacular.

Espetacular é pouco. Em menos de um mês, fomos lá duas vezes, mesmo com o salgado preço de cerca de 50 reais por pessoa. Na primeira ignoramos as (depois descobrimos) tão famosas pizzas para seguir a sugestão do garçom: fusilli com calabresa (“tem quem atravesse São Paulo só por causa desse prato”, diz ele), uma cerveja Paulistânia (super encorpada e uma delícia) e uma porção de antepasto com o champignon mais gostoso que comi na vida. O buffet de antepasto tem umas delícias com temperos dignos de rei. A porção completa custa 29 reais, mas o garçom pede para você se servir e depois ele diz quanto custou. Pela balança? Não, no olho mesmo. A nossa custou 15 reais e deu pra lamber os beiços.

Na nossa segunda vez, com um casal de amigos, escolhemos duas pizzas: quatro queijos e castelões (com queijo e calabresa). É incrível o que eles conseguem fazer com uma pseudossimplicidade espantosa. Digo pseudo porque a receita parece ser simples, sem nada a mais de extraordinário. Mas é aí que encontramos a delícia do fazer artesanal. E é aí também que reside a força de manter os fornecedores dos produtos por tanto tempo. A massa é fresquinha, crocante. O queijo é apetitoso. A calabresa é peculiar. Posso dizer, com conhecimento de causa, que não fica devendo às boas pizzas italianas, as legítimas. A massa também é cozida com rigor italiano (lá, não há pacote de macarrão que se preze que não venha com o tempo de cottura, o cozimento, impresso na embalagem. E ignorar a informação é pior que destratar a mamma!)

Para quem gosta de um bom restaurante italiano, à moda antiga, aconselho uma visitinha à rua Jairo Góis, 126. Não vá esperando luxo, esteja ciente que o ambiente é simples, embora o sabor não tenha nada a ver com isso. Vale a pena ainda tomar um pouco de cuidado, pois a região não é a das mais fofinhas à noite (ainda mais com tutu em espécie na carteira). As duas vezes em que estive lá fui bem atendida (por garçons que parecem estar lá desde que a placa foi descerrada – no começo um pouco ranzinzas, mas desarmados após uma puxada de papo). Para quem é descendente de italianos, acredito que o gosto seja ainda maior, porque eu, particularmente, me senti na casa da nonna.

Castelões
Rua Jairo Góis, 126, Brás
Preço: em média 50 reais por pessoa
Porção de antepasto: 29 reais
Pizza: em média 50,00
Paulistânia: 13,00 a garrafa (mais carinha que em outros lugares, pois já encontramos por 8,50)

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