Nesta sexta-feira (25), São Paulo faz aniversário. 459 anos. Por coincidência, foi bem nessa época, há dois anos, que me mudei para cá, logo, são dois aniversários. Para comemorar, decidi reunir algumas coisas que aprendi com minhas vivências de interiorana por aqui.

Crédito: Getty imagens
1. Chove muito. No feriado chove sempre.
O guarda-chuva é a melhor companhia de um paulistano. Mesmo em época de verão os casacos podem muito bem sair do armário. E um passeio no parque ou uma viagem curta à praia não devem ser programados com muita antecedência. Até porque a chuva adora aparecer em vésperas de feriado e durar até segunda-feira, quando abre aquele solzão.
2. Compras: tem que ter disposição, tem que ter habilidade.
A maioria dos meus amigos e conhecidos do Sul lembram-se sempre da 25 de março ou das lojas do Brás. Sim, é o paraíso das compras, mas geralmente esse Éden vem acompanhado de um certo purgatório. Para achar coisas bonitas e baratas, sempre precisei de muita disposição para aguentar o ritmo neurótico e alucinante, as disputas quase a tapa com um sem-número de sacoleiros, o calor e também a habilidade para pechinchar, caçar achados, enfrentar a falta de provadores. Mais fácil dançar o Créu.
3. A efervescência cultural: um privilégio.
Nem todos os paulistanos se dão conta disso. Eu, que sofria antes com a falta de uma vida cultural mais intensa, ainda me culpo por não aproveitar tanto quanto poderia. O mundo acontece em São Paulo. Num mesmo dia você tem um show de uma super banda de rock, um samba acontecendo de graça no outro canto da cidade, uma mostra de filmes venezuelanos, o lançamento de um promissor escritor, uma roda de conversas sobre a poesia no cinema, enfim, Catraca Livre pra que te quero
4. O povo está aqui para trabalhar.
Uma das melhores coisas de São Paulo é saber que todos (salvo raras exceções) os lugares te servem bem. Você pode ter algumas decepções, mas em geral até a padoca do bairro mais afastado ou o PF (prato feito) para o qual você não dá nada é decente, dá pra encarar. Desde cedo o paulistano médio sabe que precisa trabalhar e correr. Correr atrás do ônibus, contra o tempo e atrás de algo melhor, que te dê mais do vil metal, essencial na cidade que não dorme e que, não dormindo, custa caro.
5. A praticidade.
Até nos metrôs daqueles mais empanturrados, em que mosquito morre sufocado, o paulistano consegue aproveitar o tempo dentro do transporte público ou do ponto. As mulheres passam delineadores dentro do sacolejo (eu não consigo nem parada diante do espelho). A mãe liga pros filhos para adiantarem a janta e explica por telefone até o passo a passo do cozimento do feijão. Livros são lidos, conteúdos pra prova são estudados e rola até uma refeição completa no bonde. Toda hora é hora e nenhuma é de ficar parado.
6. A cidade é cinza, mas não tão ranzinza.
O paulistano não é antipático como pintam. Existem pessoas fantásticas e outras insuportáveis, como em todas as outras cidades. Por isso não posso concordar com o Nelson Rodrigues quando ele diz que a companhia de um paulista é a pior forma de solidão. O individualismo é sim uma característica marcante, mas isso vem muito daquele sentimento inerente à maior parte dos paulistanos: é preciso engolir a cidade antes que ela te engula.
7. São Paulo é feita de jovens ambiciosos e velhos cansados.
Não é à toa. Os jovens sabem que vão ter que trabalhar muito para manter um custo de vida ok. Em ‘muito’ entende-se quantidade, ou seja, desde cedíssimo, e intensidade, hora extra corre solta. Os velhos já passaram por isso, assim, aqueles beirando à aposentadoria já se esgotaram tanto que mal têm energia para aproveitar o que a folga poderia lhes reservar.
8. Futebol, essa paixão.
Eu nunca fui muito ligada em futebol, nunca tive vontade de ter um time. Não sei se pela proximidade dos estádios ou pelo fato de os times daqui serem fortes, grandes, isso se tornou mais atrativo para mim. Já presenciei discussões calorosas em mesas de bar, já tive medo no meio de um monte de torcedor lunático indo ao jogo de metrô, já vi gente chorando desesperadamente, de raiva, de tensão, por títulos perdidos, por rebaixamento. Em São Paulo as estações de metrô carregam nomes de times, quer o quê?
9. A vida, amigo, custa caro.
Se você economiza em programas alternativos e em algumas roupas e acessórios do outro lado tem uma lista gigante de itens caríssimos na cidade grande. O transporte (o público ou a gasosa), a manicure, a costureira, o sapateiro, a depilação, a faxineira – quando mostram a conta – fazem você sentir saudade da vida pacata no campo.
10. É a chance de conhecer o mundo.
Costumava dizer que a máxima de São Paulo é trabalhar num bairro italiano, em uma empresa alemã, almoçar no restaurante árabe cujo caixa é um japonês. É a maior variedade de sotaques por metro quadrado que já conheci. Todo mundo tem um amigo que tem um ascendente nordestino ou europeu, às vezes os dois ao mesmo tempo, como eu. A variedade está na culinária, não só no restaurante, mas dentro de casa, com as diferenças nas pitadas de tempero, nos costumes, no palavreado. O que não me conforma é em uma cidade desse tamanho, de grandeza territorial e cultural, exista tanto preconceito. Ou seja, não me conformo de as coisas ruins também aumentarem de forma proporcional.
Tatiana Lazzarotto

Oca - Parque do Ibirapuera A cidade é cinza, mas não tão ranzinza (Crédito: Getty Images)

...que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
Já pode se considerar paulistana moça rsrs traduziu bem a cidade, adorei! Não sou velha, mas perto dos trinta já tô cansada, vou mudar de cidade...