Quem acredita que cerveja é coisa de homem, além de estar equivocado mostra que não conhece o assunto. Desde os primórdios, as mulheres já tinham papel fundamental na produção da cerveja, pois eram elas as incumbidas de todo o processo de fabricação em muitas regiões consideradas hoje como o berço da produção cervejeira, como a Suméria, por exemplo.
Claro que muita coisa mudou depois de alguns milhares de anos, mas o gosto das mulheres pela fabricação das cervejas ainda perdura e começa a ganhar força entre as brasileiras. Prova disso são Cidinha Cappi (56), Kethlyn Justo (22) e Natalia Bichara (25), que produzem a própria cerveja em casa, de forma artesanal e, diga-se, com bastante propriedade sobre o assunto.
Cidinha Cappi: a Mama Cervejeira
A administradora Cidinha Cappi conta que sempre gostou de culinária, assim como sempre foi amante de cerveja. No entanto, cozinhar nunca foi problema, já produzir a fermentada não parecia ser tão simples assim. A curiosidade foi tanta que Cidinha Cappi decidiu fazer um curso de cerveja artesanal para quem sabe fazer também a própria cerveja.
Em julho de 2009, Cidinha Cappi produziu a primeira cerveja, a qual chamou carinhosamente de Mama Bier. A leva inicial foi de 20 litros, mas o gosto pela coisa foi tanto que em pouco tempo a administradora quadriplicou a produção. Depois de fazer todos os tipos de cerveja, ela optou por trabalhar em escala menor, já que o esforço não é pouco e leva bastante tempo. “Hoje tenho uma cozinha de brassagem semiautomática com capacidade de 50 litros, mas que me dá menos trabalho do que quando fazia na panela”, comenta.
Desde então Cidinha Cappi já fez mais de 2.300 garrafas de cerveja e, até hoje, não comercializou sequer um único vidro, pois segundo ela, a produção é apenas para degustação de amigos e familiares. “Este é um hobby muito gratificante e maravilhoso. Pena que ainda existam poucas mulheres que fazem cerveja e que a maioria prefira o shopping”, diz.
Jovens e loucas por cerveja
Depois de ficar hospedada num hotel em que a única cerveja oferecida era artesanal, a estudante de engenharia química Kethlyn Justo descobriu que cervejas não são apenas as que estão nas prateleiras dos supermercados. Aliás, percebeu que existia um universo muito mais complexo e atraente ainda não oferecido pelas pilsen feitas à base de milho e cereais não maltados. Tempo depois, após pesquisar mais sobre o novo mundo que havia conhecido, a estudante de engenharia química encabeçou o primeiro curso básico sobre cerveja, em 2012.
No ano seguinte, outro curso. Desta vez mais específico e complexo e, depois disso, o resultado foi a própria cerveja. “O estilo que mais faço é weiss por ser o preferido da minha família e amigos, mas tento sempre inovar com tipos e métodos diferentes”, conta Kethlyn, que produz em média quatro cervejas por mês.
Funcionária do Lamas Brew Shop, empresa que comercializa tudo o que é necessário para fabricação de cerveja em casa, desde insumos, ingredientes inusitados até equipamentos, Kethlyn diz que a sensação de tomar a cerveja feita por ela mesma é única. “Beber a própria cerveja é beber a melhor cerveja do mundo!”.
A exemplo da estudante, a engenheira de alimentos Natalia Bichara também se viu interessada pela fabricação de cerveja repentinamente. Segundo ela, a curiosidade surgiu quando cursou uma disciplina da graduação voltada para bebidas fermentadas. Desde então, a cerveja se tornou mais que um hobby, mas um objetivo profissional.
Pouco tempo depois de iniciar o estágio no Lamas Brew Shop, a engenheira já tem no currículo seis estilos diferentes de cervejas já produzidos. “Comecei em agosto de 2013 e já fiz alguns estilos tais como Kolsch, Indian Pale Ale, American Pale Ale, Witbier, Blonde Ale e Weiss”, lembra.
Enganam-se os que acreditam que as mulheres apreciadoras de cerveja têm preferência somente pelos tipos mais fracos ou de maior dulçor. “Gosto de cervejas bem lupuladas, adoro o aroma e o sabor do lúpulo. Não gosto quando falam que mulheres só gostam de cervejas fracas, as famosas cervejas de mulherzinha”, discorda a engenheira.
Para Natalia, o fato de cada vez mais mulheres se interessarem pela cultura e produção cervejeira é bastante positivo e promissor. “Já escutei várias vezes que fazer cerveja é coisa de homem, mas fico feliz de ver que cada vez mais mulheres se interessam pelo assunto. É como se fosse uma volta ao passado, já que no início da história da cerveja, as mulheres eram as responsáveis por sua produção”, finaliza.
Para Ale Morais, um dos proprietários do Lamas Brew Shop, “o hábito de fazer cerveja em casa, conhecido no mundo todo como homebrew, tem crescido de maneira significativa entre as mulheres brasileiras”. É um grande ganho para um país como o Brasil, que abriga hoje, cervejarias artesanais de renome e premiadas em todo o mundo. Uma parte dessas mulheres trabalha em Cervejarias, importadoras, lojas especializadas, restaurantes e hotéis. A outra parte segue somente como hobby, o que gera interesse por parte de amigas e parentes, que se sentem motivadas a iniciar o mesmo hobby.
“Quanto mais empresas do setor estiverem dispostas a empregar mulheres cervejeiras, como é o nosso caso, maior ganho teremos na cultura cervejeira”, finaliza Morais.
Se você ficou interessado em produzir sua propria cerveja, se informe no site www.lamasbrewshop.com.br