A partir do dia 13, quem acessar o site do clube poderá assinar o serviço e, já no mês seguinte, começa a receber duas garrafas de cachaça artesanal, uma prata e uma ouro. O volume de cada garrafa irá variar entre 300 e 400ml e o valor mensal da assinatura será de R$ 59,90.
A ideia surgiu após uma viagem que Tavares fez à Parati, Rio de Janeiro, cidade cuja história está entrelaçada à da cachaça. “Visitei todos os alambiques em um final de semana, por turismo mesmo. No entanto, quando voltei à Campinas, tive muita dificuldade de encontrar os rótulos, mesmo se tratando de marcas famosas. Aí que a ideia começou a engatinhar”, explica Thiago, um dos sócios-fundadores.
De acordo com dados de 2012 do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CBRC), a cachaça é o terceiro destilado mais consumido no mundo. Ainda assim, Tavares aponta que não é tão simples encontrar uma cachaça de alambique em qualquer bar ou supermercado. Depois de algumas pesquisas, percebeu que um dos problemas era a distribuição, etapa que encarece muito a produção da cachaça. “O pequeno produtor mal consegue distribuir em sua região, de forma que quem quer provar várias cachaças, só consegue isso viajando até o próprio alambique. A visita é válida, mas a questão é que deveria ser mais fácil encontrar um produto que é brasileiro.”, explica Tavares. Além disso, 98% dos produtores de cachaça estão classificados como pequeno ou micro-empresários, ainda de acordo com o CBRC, o que dá pouca margem para grandes investimentos em propaganda e distribuição, por exemplo.
Pensando nisso, o Quintal da Cachaça foi estruturado para simplificar o processo para quem está, de alguma forma, envolvido com a bebida. Para o produtor, isso significa não se preocupar com transporte e divulgação da marca dele; para o assinante, a comodidade de receber em casa duas garrafas de cachaça artesanal e de qualidade. “Pensamos no pequeno produtor, que muito comumente não tem como viabilizar sua divulgação e distribuição. Possibilitamos, então, que a cachaça dele chegue até novos apreciadores, que acabam conhecendo um mundo de sabores a um preço justo, até então de difícil acesso.”, explicou Roque, sócio cuja experiência de mais de 15 anos com distribuição foi usada para o planejamento dessa fase.
Mas a distribuição não é a única das barreiras. Segundo Thiago Tavares, mesmo quando se encontra um restaurante ou bar que venda vários rótulos de cachaças, dificilmente alguém do lugar entende do assunto. “Temos que considerar que hoje a cachaça pode ser envelhecida em mais de 30 tipos de madeira e que cada uma delas dá uma textura, cor e sabor diferentes. Por isso, não adianta encontrar uma carta de cachaças, por exemplo, que não tenha sequer a descrição de em qual madeira a bebida foi envelhecida ou armazenada. E se não há ninguém no estabelecimento que entenda ou goste do assunto, a escolha será ‘às cegas’”, ressaltou Tavares, explicando que esse é um dos objetivos do Quintal da Cachaça, oferecer uma curadoria, além de explicar para o assinantes quais são as peculiaridades de cada rótulo e o porquê dele ser especial.
O Legado Cultural da Cachaça
Além de apreciadores da bendita, os três sócios acreditam no legado cultural e histórico da cachaça, bebida ainda estigmatizada por grande parte da sociedade. Uma das razões para isso, aponta Giuliana, é a maneira como ela era consumida na época da escravidão. “Para o negro, que veio, forçado, trabalhar no Brasil e tinha que suportar os maus-tratos, trabalho intenso, além da saudade da família, a cachaça era o consolo. Não à toa, os senhores de engenho e fazendeiros forneciam a bebida livremente, justamente para que ela funcionasse como espécie de ‘sedativo’”.
Ainda assim, observa que hoje existem vários movimentos em prol do resgate do valor cultural da cachaça e um trabalho de reconhecimento das propriedades da bebida. “O número de pesquisadores que têm surgido nesse meio está crescendo, tal como os estudos publicados sobre a cachaça. Na ESALQ, por exemplo, há um laboratório onde pesquisadores se dedicam a examinar amostras de cachaça. O Mapa da Cachaça, referência cultural no assunto, é outro ótimo exemplo, além da criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça, em 2006. Isso sem contar os cursos para cachaciers, formação de mestres cachaceiros e até mesmo de degustação que começaram a existir. Esses números, claro, ainda têm que crescer, mas já é um começo que nos faz ficar otimistas, pois vemos que a aceitação, aos poucos, vai aumentado”, avaliou Giuliana.
O próprio dia 13 de setembro mostra isso. O Dia Nacional da Cachaça foi decretado lei em 2010, para representar o período em que a cachaça chegou a ser símbolo de patriotismo no Brasil colônia. Em 13 de setembro de 1649, Portugal proibiu a produção e venda da cachaça, com exceção dos negros, que ainda poderiam tomá-la. A atitude foi uma resposta à diminuição do consumo dos vinhos portugueses e da bagaceira, aguardente portuguesa. Até que em 13 de setembro de 1649, produtores sentindo a perseguição e os altos impostos por não terem cessado a produção, tomaram o governo do Rio de Janeiro por cinco meses, iniciando a Revolta da Cachaça, um dos primeiros levantes brasileiros contra a dominação portuguesa.
Volume Variável
A escolha de trabalhar com garrafas de volume variável mensal de 300 a 400 ml por mês também foi uma forma encontrada de viabilizar o negócio. Segundo Tavares, um dos problemas encontrados na estruturação do clube foi justamente que nem todos os produtores trabalhavam com as garrafas de 375 ml, volume ideal imaginado no início do projeto.
“Chegamos a pensar em termos nossas próprias garrafas e dar para o produtor envazar no nosso volume, mas de acordo com a legislação, os produtores estariam criando um novo produto se envazassem em um tamanho diferente daqueles que eles registraram no MAPA (Ministério da Agricultura e Abastecimento) - o maior problema não era o registro em si, mas o tempo que esse trâmite poderia levar”, explicou Tavarez.
A alternativa encontrada pelos empreendedores foi estabelecer o mínimo de 300 ml e o máximo de 400 ml para cada garrafa que compõe o kit. Dessa forma, o número de produtores que pode ser fornecedor do Quintal da Cachaça aumentou, e a burocracia diminuiu.
“Como as cachaças com que trabalhamos têm muita qualidade, acreditamos que o assinante irá aceitar bem essa questão do volume variável. Até porque, mesmo que a garrafa seja de 300 ml, o mínimo, ainda é suficiente para degustar a cachaça pura, fazer uma caipirinha ou outro drinque, ou utilizar como ingrediente para uma receita culinária. Além disso, o preço da assinatura representa o serviço como um todo, não apenas o volume”, finalizou Tavares.
O Mercado da Cachaça
A cachaça é hoje o destilado mais consumido no Brasil e o terceiro no mundo. Para os três sócios, a partir do momento em que se estabeleceu que só poderia ser denominada cachaça a bebida que fosse produzida a partir do mosto fermentado da cana-de-açúcar e em território brasileiro, essas informações ganharam imensa importância. De acordo com dados de 2012 do CBRC (Centro Brasileiro de Referência da Cachaça), 30% da cachaça hoje advêm de produção artesanal, em alambique, enquanto os outros 70% se tratam das cachaças de coluna, industriais.
Estima-se que haja mais de 40 mil alambiques espalhados pelo Brasil, no entanto, apenas 4 mil marcas constam no registro do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O órgão é responsável por fiscalizar e garantir boas práticas de produção, assegurando, por exemplo, que as cachaças produzidas por esses alambiques tenham graduação alcoólica entre 38% vol. a 48% vol. a 20°C e que tenham no máximo 6g/L de açúcares.
Todas as medidas para garantir a qualidade, aos poucos, mudam a visão do brasileiro sobre a cachaça. Hoje, a média de consumo de cachaça anual é de 11,5 L por habitante. Segundo Tavares, estima-se que o mercado da cachaça movimente cerca de 7 bilhões de reais por ano, sendo que apenas 1% de toda a sua produção seja exportada.
A Start-Up
Apesar do mercado da cachaça apontar que há muito espaço para crescimento, Thiago Tavares, 24, encara o momento com cautela. “Eu trabalhei alguns anos no mercado farmacêutico e também já tentei abrir outra empresa em 2013, mas acabou não dando certo”, explicou Tavares.
As experiências anteriores fazem a diferença hoje, principalmente na tomada de decisões. “Apesar dessa empresa não ter funcionado, agora, com o Quintal da Cachaça, eu sei como agir em várias situações, desde a negociação com os produtores, até a venda para o cliente final. Nessa hora, toda bagagem é útil. Até por isso é muito bom que o Roque tenha muita experiência com distribuição e logística, e a Giuliana, com comunicação”, pontuou Tavares.
Como é muito próprio do brasileiro se reunir com os amigos e receber pessoas em casa, o quintal acaba se tornando o lugar onde todos se encontram, fazem churrasco e passam momentos bons. E os três sócios tinham o mesmo costume: “Estávamos justamente no quintal da casa de um de nós, onde sempre nos reunimos, quando contei a ideia do clube. Começamos a pensar em um nome e, como já tínhamos o costume de dizer que íamos nos encontrar no “quintal”, pensamos em Quintal da Cachaça. O legal é que esse nome tem um significado para nós, mas também é um lugar da casa que significa muito para os brasileiros em geral”, explicou Tavares.
Já a concepção do logo da marca não foi tão simples. Foram necessárias quase dez tentativas até chegar no que o logo é hoje. “Queríamos algo despojado, mas que não desse um tom pejorativo. Fizemos diversos testes até chegar ao logo atual, no qual se vê o copo meio cheio de cachaça prata e a outra metade com cachaça ouro, representando justamente o que iremos entregar todos os meses aos assinantes do clube", finalizou Tavares
Acesse: Quintal da Cachaça www.quintaldacachaca.com.br