São Paulo é uma maravilha para quem gosta de comer bem. Desde ótimos restaurantes até a mais simples das padarias, com algumas raras exceções, a cidade oferece comida de qualidade. Pudera, a população vive para trabalhar e, de fato, trabalha bem.
Mesmo com todas as redes de fast-food disponíveis (acredito que aqui existam todas), e com todos os restaurantes, cantinas e botecos a dar com pau, acredito que minhas experiências gastronômicas mais gostosas acontecem em feiras (São Paulo tem várias, para todos os gostos). Tem que estar disposto a enfrentar filas e sempre dar uma conferida na higiene da barraquinha, claro, mas acredite, nas feiras você encontra comida fresquinha, bem feita e com preços também apetitosos.
Eu poderia até começar a falar dos pastéis, comida de feira que merece uma coluna à parte, mas achei melhor iniciar minha participação aqui com uma das minhas feiras preferidas: a da Liberdade, que acontece aos finais de semana e cujo ponto alto é aos domingos. A forte presença dos imigrantes japoneses - e também coreanos e chineses - no bairro tornou o local referência da cultura oriental na cidade e, além da feira de comida (nham), você ainda pode passear pelas ruas decoradas com lanternas japonesas, e pelas barraquinhas de artesanato, podendo apreciar ou comprar desde medalhas vindas diretamente do Japão – dizem – até borboletas conservadas como objeto de decoração (liberadas pelo Ibama, segundo a dona da barraquinha).
Na feira você também encontra artesanatos exóticos, como quadros com borboletas naturais
Mas vamos a parte gostosa da Liberdade: os pratos. Imperdoável passar por ali e não provar o guioza da Família Nakamura. O guioza é um pastel com recheio com mistura de carne bovina, suína e verduras, cozido no vapor e grelhado na chapa. A barraca é bem cheia, mas eles têm um sistema de senhas que facilita a vida de quem espera. Tem vários acompanhamentos, como shoyu com cebolinha, batata com curry, molho agridoce, vinagrete... Os pratos - além do guioza é vendido o nikumanju (pão japonês cozido no vapor e recheado de várias formas) - são totalmente artesanais e feitos em escala. Dá até gosto ver a organização deles em todas as etapas.
Guioza grelhado na chapa. Cada um sai por 3,50
Bom, outra parada obrigatória é a barraca de sucos. O copo do suco com água (também tem com leite condensado) sai por 5 reais, mas vale a pena. São totalmente naturais (com exceção do cajá, que quando pedi foi de polpa) e bem geladinhos, o que torna impossível tomar um só quando o dia está quente.
Chico Science tomando suco de cajá :P
A feira também é uma tentação para quem ama tempurá, espeto de camarão, yakissoba, tako-yaki (bolinho com recheio de polvo, camarão ou misto), bi-fum (aquele macarrãozinho fininho) e, pros fãs de doce, tem o de feijão (uma delícia) e até uma barraca de churros super disputada (já fui lá várias vezes, mas nunca consegui esperar tanto tempo na fila).
Yakissoba misto pequeno, com molho agridoce à base de maçã
Aliás, mais certo que encontrar um japonês lá é saber que você vai enfrentar filas. Nada tão absurdo como algumas festas italianas que temos aqui (como Achiropita e São Vito), mas a Liberdade é feita para quem gosta de muvuca. Ou pelo menos para quem é capaz de se divertir com isso. Afinal, como as feiras paulistanas não são só gastronômicas, mas culturais, esteja disposto a não apenas matar a fome, mas conhecer outras pessoas e costumes.
Preços
Guioza (3,50), yakissoba pequeno (12,00), suco (5,00) e doce de feijão (2,50). Total: 23,00
Feira da Liberdade
Rua Galvão Bueno e Praça da Liberdade (a estação de metrô Liberdade – linha azul – tem uma saída diretamente para a praça)
Tatiana Lazzarotto